A Velha Casa da Ponte – Uma viagem ao coração! – CIDADE DE GOIAS - GO
Com licença da
apropriação, mas a cidade de Goiás tá aqui pertinho de Brasília, uma extensão
das opções que cercam nosso “quadrado” e por assim dizer, o Goiás é nosso
também! E como não dizer que a Cidade de Goiás é em direção ao coração? Lá tem Cora Coralina, muito amor de mãe, de
vó, de mulher!
A Cidade de Goiás fica a
350 km de Brasília, estrada boa, acesso fácil. A viagem em si já e um encontro
com a história do centro do Brasil, passando por muitas cidades (ândias) até
chegar na cidade de Cora Coralina, uma pérola do cerrado que merece ser
“apenas” contemplada com a alma e o coração como tão bem descreveu nossa
doceira escritora e poeta.
A cidade foi tombada em
2001 pela UNESCO como Patrimônio Histórico e Cultural Mundial com sua arquitetura
barroca do séc. XVIII, pelas tradições culturais e pela famosa natureza da
Serra Dourada. Os índios ocuparam essa região, mas com a descoberta das Minas
Gerais e das Minas de Cuiabá, Goiás foi descoberta e ocupada pelos Bandeirantes.
A partir de 1748 tornou-se
Capitania e capital do estado. Intensa
vida cultural e social, vinculada à capital do Império – Rio de Janeiro, destacando-se
no século XX com manifestações importantes de arte e cultura e também conhecida
com o ritual da Procissão do Fogaréu, realizada na Semana Santa.
Nos anos 40 a capital foi
transferida para Goiânia e isso fez com que a Cidade de Goiás parasse no tempo
e mantivesse preservada suas características coloniais.
No começo chamava-se Vila Boa, depois ficou conhecida como Goiás Velho e hoje é Cidade de Goiás. Chegando na cidade é essa a sensação: “chegar numa vila boa, como se estivéssemos voltando para a casa da mãe depois de muito tempo distante”. As pessoas ainda mantém a ingenuidade do passado, a arquitetura manteve-se intocável e os ares de Brasil Império ainda resistem.
No começo chamava-se Vila Boa, depois ficou conhecida como Goiás Velho e hoje é Cidade de Goiás. Chegando na cidade é essa a sensação: “chegar numa vila boa, como se estivéssemos voltando para a casa da mãe depois de muito tempo distante”. As pessoas ainda mantém a ingenuidade do passado, a arquitetura manteve-se intocável e os ares de Brasil Império ainda resistem.
O roteiro que fiz foi de
fim de semana, aquela escapada rápida para “desanuviar” a cabeça e fui num
período fora de feriado onde a cidade estava na sua rotina normal.
As opções de hospedagens
são simples e acolhedoras. Fiquei na Pousada
do Ipê, ao lado da Igreja do Rosário. Rustica, às margens do Rio Vermelho,
um jardim denso e uma área de lazer que compensa muito a simplicidade dos
quartos e aplaca o calorão típico dessa região com uma piscina muito boa.
Apesar da simplicidade, a localização, o café da manhã e a área da piscina,
compensam o valor um pouco “salgado” da diária. Tudo perto e fácil de encontrar. Mas, atenção,
as ruas são de pedra e requer disposição e conforto para subir as pequenas
ladeiras. Tudo é feito a pé.
Saindo da Pousada do Ipê,
a primeira parada é na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos (1761).
Tornou-se a igreja dos escravos porque eles pediam um local para devoção, já
que eram obrigados a seguir o cristianismo. Foi demolida e reconstruída em
estilo neogótico em 1934 pelos frades dominicanos vindos da França. É
interessante observar a diferença de estilos do Barroco para o Neogótico que
fica bem evidente nos arcos da fachada. Na escadaria dessa igreja ocorre o
encontro dos seresteiros, uma prática conhecida e apreciável por todos que
estão na cidade: moradores e visitantes. À meia-noite os músicos se encontram
na escadaria da Igreja, afinam seus violões, aquecem as vozes e depois saem em
caminhada por toda a cidade. E tive uma
sorte danada: era noite de lua cheia no dia da serenata.
Atravessando a Ponte sobre
o rio Vermelho, lá está ela: a Velha Casa
da Ponte. Lá, aonde a Dona Cora dizia que a porta deve ficar sempre aberta
e o fogão sempre tinha um tacho de doce sendo preparado. Assim, como aquelas
casas de interior que a gente passa pelas ruas e vê o que tem dentro, dá uma
paradinha, entra, toma um café e tira um “dedo de prosa”. Para que portas? Agora a casa é um museu que mantém sua
história e preserva sua memória. A Velha
Casa da Ponte (1770) foi adquirida pelo trisavô de Cora Coralina - Sargento-Mor,
João José do Couto Guimarães - em 1825. Hoje pertence à Associação Casa de Cora Coralina, onde a encontramos com vida nas paredes, na cadeira já desgastada, no
quarto pequeno que cabia uma grande mulher e um quintal grande de vegetação variada
que a natureza foi esculpindo. Debaixo da casa, no porão, brota uma “bica” de
água potável e as palavras de Cora se espalham por todos os lados.
Cora Coralina nasceu Ana
(Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas) em 1889, ano que que falece seu pai.
Cresceu numa família de mulheres sem ter a figura masculina como provedora e foi
com muito sacrifício que sobreviveu, o que marcou sua vida e determinando suas
escolhas. Estudou até a 3ª. Série primária. Já moça, se envolveu com movimentos
literários, culturais e fundou o jornal “ A Rosa” dirigido só por mulheres.
Assumiu o pseudônimo Cora Coralina ao começar a escrever crônicas e ela explica
que “Cora”, vem de Coração e “Coralina” vem de “vermelho”. Aos 20 anos muda-se
para São Paulo com seu pretendente, casa-se, tem filhos, trabalha como produtora
rural e mantém-se na escrita e nas atividades literárias. Foi ativa
politicamente e uma das grandes alavancadoras do movimento feminista.
Foi mãe, esposa, intelectual, trabalhadora rural e extremamente religiosa. Já viúva, aos 47 anos, ingressa como missionária na Congregação de São Francisco e se dedica aos pobres. Com 66 anos retorna à Velha Casa da Ponte, sozinha, saudosa e em busca de suas raízes. A Casa estava abandonada e sustentada por vigas para não desmoronar. Lá se instala e publica seu primeiro livro e se reencontra com a vida, recomeça.
Foi mãe, esposa, intelectual, trabalhadora rural e extremamente religiosa. Já viúva, aos 47 anos, ingressa como missionária na Congregação de São Francisco e se dedica aos pobres. Com 66 anos retorna à Velha Casa da Ponte, sozinha, saudosa e em busca de suas raízes. A Casa estava abandonada e sustentada por vigas para não desmoronar. Lá se instala e publica seu primeiro livro e se reencontra com a vida, recomeça.
Quando voltou para a Velha Casa da Ponte, descobriu que lá vivia
uma senhora de rua, que usava o porão da casa para dormir, depois de perambular
o dia todo pela cidade: era a Maria Grampinho. Cora oferece um quarto
na casa para Maria Grampinho e tornaram-se companheiras de silêncio e de
memórias, cada uma na sua solidão. Maria Grampinho virou um personagem da
cidade, transformada em boneca. As bonecas de Maria Grampinho com as cabeças
cheias de grampos mostram sua fixação por botões, pregando-os por toda sua
trouxa, companheira de peregrinação na rua. E Maria Grampinho virou poesia de Cora.
Da Velha Casa da Ponte, da
janela, a vista da cidade. Atravessando a ponte, o CAT – Centro de Atendimento ao Turista e à noite, na calçada, mesas
se espalham e a música ao vivo toma conta do lugar. Um grande bar a céu aberto
com uma feira de guloseimas para acompanhar a cerveja gelada. A agitação fica
até por volta da meia-noite, hora que a concentração segue para a Igreja do
Rosário para a Serenata.
Subindo, logo se avista a Igreja Boa Morte e Museu arte Sacra (1779),
é o ponto de partida para a Procissão do Fogaréu. Reúne hoje cerca de 1000 peças dos séculos
XVIII e XIX. Tem a maior concentração de obras do escultor Veiga Valle,
considerado o “Aleijadinho goiano”.
Ali em volta, o Palácio Conde dos Arcos e ao redor, pode-se avistar outros monumentos importantes, casarões e bares. A noite é um ponto de encontro da cidade. Tudo isso na praça, em volta do Coreto da cidade onde a parada é obrigatória para tomar um sorvete e descansar um pouco. Desde 1923 funciona a mais tradicional sorveteria da cidade, com picolés artesanais feitos com frutas do cerrado.
Ali em volta, o Palácio Conde dos Arcos e ao redor, pode-se avistar outros monumentos importantes, casarões e bares. A noite é um ponto de encontro da cidade. Tudo isso na praça, em volta do Coreto da cidade onde a parada é obrigatória para tomar um sorvete e descansar um pouco. Desde 1923 funciona a mais tradicional sorveteria da cidade, com picolés artesanais feitos com frutas do cerrado.
E no meio do caminho, sempre tem doce! Eles são as relíquias açucaradas
que lembram a doceira mais querida – Dona Cora.
E foi assim que num fim de semana voltei com Dona Cora atravessada no coração.
Ahhhh Dona Cora,
Como ousas dizer que está no melhor da
vida já beirando os 90 anos?
Como ousa mostrar ao mundo que tudo que tens, te
satisfaz?
Como ousas escrever de coração para corações sem pedir
licença?
Como ousas recriar tua vida depois dos 60 anos, remover
pedras, plantar roseiras e recomeçar?
Ahhh Dona Cora, como ousas viver e ser feliz?
Pois é ....e essa viagem ficou muito melhor com as companheiras de vida:
Maravilhoso retrato, Andrea, do que prefiro continuar chamando de Goiás Velho.
ResponderExcluirInformações e imagens preciosas, um poema à cidade lugares e personagens, com final também poético com suas perguntas a Cora Corali.
Parabéns e obrigado por ter escrito e postado.
Flavio.
https://medium.com/@blogflaviomusa
http://flaviomusas.com/
Obrigado. Suas palavras são um alento!
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