Uma rota de fuga necessária! - Serra Grande – Praia de Sargi – BA
Rotas de fuga são secretas.
São os pequenas e preciosas experiências que guardamos a 7 chaves. Geralmente
não são compartilhadas para preservar a privacidade. São os nossos jardins
secretos.
E por que estou compartilhando
? Porque é tão grande a alegria desse jardim secreto que não cabe dentro de
mim.
Quando comecei a escrever sobre os destinos, há 10 anos, o propósito era inspirar para voar bem longe, com ou sem medo. Sozinha ou acompanhada. Hoje, com esse propósito vencido, estou ajustando as experiências porque faz muito sentido falar e mostrar a grandeza do simples, do fácil, do leve, sem fórmulas e receitas “redondinhas”.
A poesia está em divulgar que (para mim), não importa tanto a ousadia ou a
lonjura de ir, mas o que está à mão que pode trazer surpresas em chegar.
Com a pandemia (2020 a 2022), as buscas de destinos mudaram, elas ficaram
mais intimistas e cheios de experiências. Muitos destinos no Brasil vem sendo
descobertos quando anteriormente nem eram cogitados.
A Bahia é assim. Quando a gente acha que já viu tudo, aparece um
novo lugar. E eu tenho uma queda pela Bahia. Confesso. E acho muito bom quando
chego num lugar que (ainda) não foi descoberto e explorado pelo turismo de
massa. São essas as rotas de fuga que descobri nesse período.
Mas, olha, corre, porque rapidamente será descoberta, ocupada e transformada num destino amplamente cobiçado pelo perfil urbano que busca o exótico como escape da vida corrida. Então, aproveita as dicas e se joga!
Serra Grande – Entre Itacaré e Ilhéus, a princesinha da Praia de Sargi.
Vamos situar essa maravilha!
Sargi fica no litoral Sul da Bahia, na costa do cacau, em Serra Grande, cidade de Uruçuca. No mapa é fácil achar, pois ela fica entre Ilhéus e Itacaré. Só quem conhece o litoral baiano de norte a sul, entende por que a Bahia é de todos os Santos: Parece que aqui todos os orixás fizeram morada.
A praia é simples, rustica, inexplorada urbanisticamente e o com o tempero da Bahia : sol, brisa e preguiça, tão quente que dá vontade de não fazer nada...só ficar olhando. Os nativos são muito simpáticos e poucos. O local sofreu um “boom de novos moradores” vindos de grandes cidades a partir da pandemia. É para descanso, isolamento e contato direto com a natureza. A praia tem cerca de 4,5km de pura paz e tranquilidade. O tempo nesse pedaço de areia é bem relativo, começa cedo, no nascer do sol. O local funciona com o “sol”.
Como chegar:
Eu fui de avião, por Ilhéus.
Os voos ainda são complicados para Ilhéus, pois as Cias. Aéreas podem
alterar a rota de voo direto para voo com conexão, sem avisar o passageiro
(isso aconteceu comigo).
Apesar de Ilhéus oferecer excelentes opções de turismo e ser a porta
de entrada para o litoral da costa do cacau e do dendê com suas belíssimas
praias, as cias. Aéreas ainda não estão
acompanhando a velocidade do turismo nessa região, lamentavelmente.
Chegando em Ilhéus, tem a opção de alugar um carro ou então, buscar
um transfer ou taxi no aeroporto. No período que fui (janeiro/23) não havia a
oferta de Uber no aeroporto e de Ilhéus para Sargi são quase 40km.
Outras formas de acesso é de ônibus ou carro.
Como se Hospedar:
Em Sargi existem pousadas “pé na areia” e casas para alugar.
Outra boa opção é ficar em Serra Grande, que fica a 8km da praia de
Sargi. Recomendo estar de carro e ficar em Sargi para ter a experiência
completa.
Sargi era uma vila de pescadores e hoje são muitas construções de
casas e algumas pousadas para atender quem quer total desconexão com o stress
de locais movimentados.
Somente uma única rua asfaltada. Minha hospedagem foi aluguel de
casa ( éramos 3 pessoas) e isso nos trouxe a grata surpresa de vivenciar o dia
a dia com todos as rotinas, perrengues e contatos com os nativos.
São mais de 4km de praia totalmente nivelada, ótima para corrida, caminhada, contemplação e práticas de esportes de areia. Tem espaço de sobra.É uma praia de passagem para quem está hospedado em Ilhéus ou Itacaré, mas tem crescido muito a procura de permanência para quem quer tranquilidade completa. Nos fins de semana, o movimento é maior de turistas de passagem e, para quem está hospedado, durante a semana a praia é quase “particular” e “intimista”. A praia é calma, água morna com areia branca e reluzente. A imensidão rouba toda a atenção e deixa a gente mal-acostumado com o som das ondas, a maciez da areia e a paz do local. Difícil é sair de Sargi para visitar outras praias e achar normal a multidão disputando um pedaço de areia, a música alta e o esbarra-esbarra a cada minuto de ambulantes. As poucas vezes que fizemos isso, voltamos correndo para Sargi.
Nas praias é possível conhecer poucas barracas de apoio.
A Barraca do Sargi tem uma excelente estrutura com bangalôs,
rede de descanso e excelente atendimento. Perfeita para ficar o dia todo, com excelente
Menu para almoço e petiscos e drinks elaborados. Nessa barraca as caixas de som
são proibidas, dando uma experiencia coletiva mais agradável.
A Cabana Pé na Areia é quase um quintal de casa. Coisa simples e rapidamente faz-se amizade com
os atendentes. Tem uma excelente, sombra, cerveja gelada. Porém, corre-se o
risco de algum grupo colocar a caixa de som com playlist duvidosa e você ter
que passar o dia incomodado.
Uma característica bem marcante é que todos se conhecem em Sargi e
todos se ajudam. O local ainda é carente de comércio e serviços, sendo Serra
Grande a opção mais próxima (cerca de 8km). Os ônibus passam de hora em hora rigorosamente
: tanto para Ilhéus, quanto para Itacaré. A Cia. Rota tem
ar-condicionado e poltronas superconfortáveis.
Em Sargi a mercearia do JEL, que abre às 5hs da manhã, é o ponto de socorro para quem está hospedado
ou é morador habitual. Tem de tudo: de óleos essenciais a ovos e produtos de
limpeza. Alguns dias na semana tem a feira e o peixe fresco na frente da
mercearia. E, se não deu tempo de ir à feira, é só avisar na mercearia que o
peixe fresco vem na porta de casa. Também passa o alface, cheiro verde e
algumas frutas em carrinhos de mão na frente da casa.
Outra característica forte é que a praia tem movimento pelo período da manhã e no final do dia, quando o sol está mais ameno. É muito comum as pessoas saírem da praia as 7 da noite. A praia não tem iluminação e faz parte do projeto “a”mar, da Bahia (@projeto.amar_ba) sobre biodiversidade, preservação ambiental e proteção das tartarugas.
O que fazer pela redondeza:
Ir para Itacaré é uma opção. De carro ou de ônibus. Se for de
ônibus, o ponto final é a rodoviária de Itacaré. De lá, qualquer taxi é 30,00
para praia ou centrinho. Mas dá para ir a pé da rodoviária, uma caminhada de 10
minutos até a rua principal do centrinho que chega nas praias. Se a ideia é praia em Itacaré, depois de
conhecer Sargi, a experiência pode ser frustrante. Itacaré está toda tomada de
pousadas na beira mar e o volume de pessoas x ocupação da praia é surreal. Para
quem gosta de multidão da alta temporada, é legal aproveitar Itacaré, ver
pessoas (em Sargi é raro), variar na gastronomia e fazer comprinhas. Não há
comprinhas em Sargi.
Serra Grande é o “centrinho” que fica a 8km de Sargi. O movimento
bom é à noite na pracinha com uma muitas opções gastronômicas. O acesso de
ônibus à noite não existe. Carro ou táxi e o valor de táxi não é barato.
Outra grande experiência é conhecer uma fazenda de produção de
Cacau!
Conhecer a história do cacau é obrigatório. Mas cuidado: há risco de
não querer sair mais da região, dado a riqueza do litoral e das fazendas que
cultivam o cacau e a energia da história que contamina e deixa a gente
apaixonado.
O cacau é conhecido como alimento dos deuses e já era parte da culinária da civilização maia com o nome de cacahualt . Os povos maia e asteca cozinhavam o cacau e faziam uma bebida que chamavam de xocatl. Além de ser consumido como alimento, as amêndoas de cacau eram utilizadas como moeda. Apesar de ser nativo da Amazônia, foi amplamente cultivado na Bahia e no início do século XX o cacau era o mais importante produto de exportação da Bahia. Nos anos 90 houve a praga “vassoura de bruxa” e a produção ficou comprometida, gerando uma grande crise no setor. Nesse período, a produção de cacau na África cresceu muito em contraponto à queda da produção na Bahia. Ainda hoje a Bahia participa da produção mundial, mas timidamente.
E, para o Brasil, o cacau é mais do que um produto de exportação,
pois é parte da nossa cultura literária. Jorge Amado foi um grande disseminador
da zona do cacau, levando, através da sua obra, histórias da região da zona do
cacau, onde era seu lar na infância.
A experiência de visitação é completa: desde a plantação de cacau, até a fabricação de chocolate. A Fazenda abriga todo o processo do cacau, ou seja, a matéria prima para ser vendida ou exportada para as fábricas de chocolate. E também possui uma fábrica de chocolate local que utiliza amêndoas selecionadas para fazer chocolates que não deixam nada a desejar dos suíços.
A
visita nos leva a uma aula completa de história, botânica, agricultura e
gastronomia. Desde a plantação, os tipos de cacau e as safras, passando pela
colheita e separação da polpa e da amêndoa.
Além do processo completo, o local é um parque de diversões para
arquitetos e decoradores de interior com a criatividade e sensibilidade com que
o espaço foi organizado e preparado para contar a história do cacau com muito
carinho.
Descobri que do Cacau se aproveita tudo!
A amêndoa de cacau (fresca) tem uma polpa branca e muito saborosa.
Dali extrai-se banha que atende a indústria cosmética, do suco da polpa (néctar)
é produzido o mel de cacau, a geleia e o licor.
Na separação da amêndoa torrada com a casca, a casca vira chá de cacau. E tudo isso pode ser degustado na visita à fazenda.
Ilhéus bate-volta
Um pouquinho da grandeza que a
imortal Ilhéus pode oferecer.
A casa de Jorge Amado
Ilheus está para Jorge Amado como Cartagena está para Gabriel Garcia
Marquez. Ou seja, em cada esquina, um
personagem de Jorge Amado surge. Assim Ilhéus se mostra. Um conto ou uma
história de Jorge Amado.
O palacete é de arquitetura exuberante e original que foi construído pelo pai de Jorge Amado no final da década de 1920 e o próprio Jorge Amado viveu a infância e adolescência. Hoje é um museu que conta a vida de Jorge Amado com exposição de roupas, fotos, registros de momentos e família.
Quem nunca sentiu a curiosidade de visitar o Bataclan e mergulhar
nas águas de Gabriela?
Desde 1920, hoje é um restaurante que mantem as memórias do local. Foi ambiente de damas de companhia e dançarinas retratadas em Gabriela Cravo e Canela. Esse espaço que era conhecido como cassino, brilhou nos anos 20 e 30 e era ponto de visitação dos coronéis do cacau, jagunços, marinheiros, boêmios e intelectuais.
Todos vinham pelas mulheres e pelas atrações, lazer, negócios e muitas histórias de amores impossíveis. No andar superior preserva um museu com o quarto da Maria Machadão, mulher à frente de seu tempo que fez história e que ainda mantém viva a memória do foi o Bataclan.
É isso! Um refúgio de memórias esse pedaço da Bahia. Uma rota de fuga que nos leva ao começo, à ancestralidade, à natureza, uma viagem nas nossas raízes brasileiras. E, voltando ao passado, a gente volta com energia para o futuro.
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Agradeço seu comentário. Andrea Pires