domingo, 19 de junho de 2016

PERU e MACHU PICCHU – Quanto mais longe de casa, mais se aprende!

Posterguei 3 anos o desejo de conhecer o Peru. Foram 9 dias intensos. Voltei de lá com a certeza que esse é um daqueles destinos que merece ser visitado pelo menos 1 vez na vida, mas esse não é um destino recomendado para quem nunca viajou para fora do país. Vi muitos jovens mochileiros em grupos ou sozinhos. Vi muitas pessoas experientes desbravando. É muito desapego e adequado para pessoas que querem algo diferente e exótico. Não é uma viagem que descansa, pelo contrário, o retorno para casa é transbordando de vontade de mudanças a serem feitas na vida pessoal. Extasiada, confortada, surpresa e cansada. Não há como fazer essa viagem e voltar do mesmo jeito. 
O Peru é para caminhar, experimentar, ouvir e sentir a energia que emana de Cusco e toda a região que foi um Império à frente do seu tempo e que vem sendo redescoberto pelo mundo. Ouvi de vários nativos que foi importante a conquista espanhola, mesmo na tentativa de destruição do Império Inca (o que não ocorreu de fato), porque no futuro, seriam redescobertos e valorizados.
O que me faria voltar várias vezes foi descobrir um povo que acolhe com sua bondade e felicidade, respeitando e valorizando as forças da natureza e reverenciando a mãe terra, Pachamama: - que lhes dá o sustento de vida. O sorriso estampa em todos os lugares, a leveza de alma é o que melhor o define. Um povo tão esperançoso e cheio de gratidão pelo que a terra proporciona de sustento, pelas forças da natureza e pela sua história.
Como falar do Peru sem falar da história dos Incas, dos espanhóis, da religião politeísta naturalista, arquitetura, matemática...enfim...decidi escrever o que vi, pois a história está mais do que contada e recontada. Compartilho não meus conhecimentos, mas meus olhos, com a certeza da generosidade que vi lá.
O Peru é famoso pelo Império Inca (filhos do sol), considerado o maior Estado da América pré-colombiana, resultado da conquista de várias civilizações andinas no séc. XIII. Apesar da sua hegemonia e inovações, foi um Império de vida curta (cerca de 100 anos), onde se estendia pelo Equador, Bolívia, Argentina, Chile e Colômbia. A administração central era em Cusco (em quíchua, "Umbigo do Mundo"). Nesses 100 anos, atribui-se aos Incas grande desenvolvimento e descobertas na irrigação, agricultura, arquitetura e construção, astronomia e matemática. Tudo era compartilhado e servido à população que produzia e trabalhava para aprimorar cada vez mais esse modelo social. Um exemplo de socialismo ideal, à luz da religião politeísta, identificada pela dualidade: bem e mal, claro e escuro, luz e sombra...ou seja...a busca do equilíbrio entre as forças criadoras.
Ouvi de alguns nativos que a conquista espanhola não foi resistida pelos Incas num primeiro momento. Pizarro já tinha tido contato com os Incas em 1526. Eles contam que os Incas esperavam o grande Deus (trovão) chegar por mar. Quando Pizarro e conquistadores chegaram com seus canhões, supõe-se que teriam sido recebidos como deuses, porém, ao longo da conquista espanhola, o Império Inca percebeu que estava sendo dizimado e explorado e a guerra era inevitável. Não havia ouro e prata que satisfizesse a Espanha. Em 1532 Pizarro derrotou e capturou o ultimo imperador inca Atahualpa. Exigiu ouro e prata em troca da libertação e, mesmo tendo recebido a recompensa, Atahualpa foi executado e Pizarro conquistou definitivamente o império, estabelecendo o domínio Espanhol e a igreja católica como religião oficial. 
A Lima que conheci é lindamente cinza

Encantadora e cinza. O Centro Histórico é onde se concentra o maior acervo da colonização espanhola. O ponto de partida é a Praça das Armas e a Catedral, cuja inspiração é na Catedral de Sevilha, rapidamente percebida pelos azulejos mouros. O Convento de Santo Domingo e Santa Rosa é onde estão expostos pertences e história de mártires, como por exemplo, São Martim de Porres, um religioso, enfermeiro e santo peruano que se dedicou a caridade. E ali pertinho, a Igreja de São Francisco. A história da conquista espanhola se repete: a catedral, o governo e a praça. Miraflores é muito agradável, ideal para hospedagem porque fica longe do caos do centro histórico e do transito (que me assustou muito), pois é caótico mesmo no sábado, não há como fugir. Apesar dos ares de grande cidade super populosa, não me senti insegura e tão pouco vi violência urbana. 
Miraflores é um bairro calmo e cosmopolita. Além do shopping Larcomar, que fica à beira do pacífico com restaurantes maravilhosos, há uma ciclovia onde, caminhando, chega-se ao Parque do Amor com as esculturas e monumentos que muito lembram Gaudi. A Calle Larco merece uma manhã inteira de exploração e compras no centro de artesanato. Lima me conquistou pela gastronomia: Ceviche e Pisco, que só de lembrar, a boca saliva. Uma sugestão de quem vai pela 1ª. vez: O tour com o ônibus aberto é muito bom e vai até Barranco (bairro boêmio e intelectual). Contrate um transfer/receptivo do aeroporto ao hotel e hotel para aeroporto (não é luxo, é necessário) para não sofrer o stress dos taxis (o valor tem que ser negociado na hora).



Cusco 3400 metros de altitude e é azul!
A aterrisagem em Cusco é lindíssima e dá medo. Senti a diferença de altitude imediatamente. Muito sono, cansaço e recomendo no 1º. dia comer algo leve para se acostumar. Os hotéis carinhosamente recebem o turista com chá de coca e muita simpatia. O centro de Cusco é um museu inca e espanhol a céu aberto. Percebe-se a influência da igreja Católica por onde os espanhóis passaram, mas não conseguiram descaracterizar a cultura Inca. O mercado de São Pedro é uma atração imperdível.

Lá a gente tem contato imediato com a gastronomia e cultura local: Cuy (porco da índia que é assado num espeto) é bem popular, o Choclo com queso tem que ser provado e a inka cola faz muito sucesso. E o ceviche continua no topo da lista.
Cusco tinha o desenho de um puma deitado que representava ser o guardião das coisas terrenas. E a cada ponto desse puma era uma local sagrado, onde hoje são sítios arqueológicos. Esses pontos são muito parecidos com os pontos dos chacras. Koricancha (genitais do puma) foi onde os espanhóis construíram o convento dominicano Santo Domingo. Era todo fechado de ouro que obviamente foi saqueado. Hoje é um desses sítios arqueológicos. Lá se rendia homenagem ao maior deus inca o "Inti" (o sol). 
Sacsayhuamán (cabeça do puma) é outro sítio onde se realiza a festa de 24 de junho, no solstício de inverno, o ritual de culto ao deus sol ou Inti.
Com a conquista espanhola, a arquitetura ficou mesclada com a arquitetura inca, onde várias sobreposições são percebidas. Houve um terremoto em 1950 que destruiu muitas coisas, mas os nativos contam que tudo que era de construção Inca se manteve de pé e o que era espanhola ruiu. Isso se vê claramente na construção de padres dominicanos sobre o Templo do Sol: a parte Inca ficou e a dos padres se foi. 


As cores do Peru são maravilhosas e é impressionante conhecer a produção de lãs e a extração de cores de sementes e pedras.










Vale Sagrado, onde a energia emana de todos os lados.
O Vale Sagrado é conhecido por rios que descem pequenos vales. São vários sítios arqueológicos e povoados. Os incas estabeleceram aqui as experiências agrícolas por causa das variações geográficas e climáticas do local. Foi um dos principais pontos de produção de milho no Peru.  
Ollantaymbo possui terraços agrícolas e templo do sol. As casas são de pedras da época inca. E em Maras, as salineiras são uma beleza à parte. Essas salineiras recebem águas salgadas debaixo das montanhas que jorram e formam as piscinas para extração do melhor sal. Cada poço de sal pertence a uma família e vai passando para os descendentes. 

Pisac tem suas ruínas que foram posto militar, por isso estão no topo das montanhas. Moray foi estação agrícola experimental. O que me deixou muito confusa: com tanto conhecimento já desenvolvido na produção agrícola e hidráulica pelos incas, porque nós ainda tentamos inventar o que já foi inventado?
A parada no museu Inkary é o ponto alto. Aqui tive uma aula de história sobre as civilizações andinas e a conquista Inca, bem como a explicação para os desenhos de Nazca. Se os deuses eram astronautas, não sabemos, mas que há uma escultura pré-colombiana de um astronauta é fato.



Aguas Calientes, a um passo de Machu Picchu
O trem parte de vários pontos e chega até Aguas Calientes. Eu preferi pernoitar para seguir à Machu Picchu bem cedo. Aproveitei e conheci o clube de águas termais medicinais. Um local rodeado de montanhas e que é muito frequentado pelos nativos. Águas Calientes é somente um ponto de parada com hotéis e restaurantes para quem vai seguir Machu Picchu.
Machu Picchu 2430 metros de altitude e onde Deus sentou para admirar a criação

Às 6 da manhã segui para Machu Picchu (em quíchua Machu Pikchu, "velha montanha") também chamada "cidade perdida dos Incas", pré-colombiana muito bem conservada (os espanhóis nunca chegaram lá, por isso ela mantém suas origens Incas sem interferência). Está localizada no topo de uma montanha, a 2400 metros de altitude, no vale do rio Urubamba. Foi construída no século XV, e foi redescoberta em 1911 por um inglês Hiram Birgham. Mas antes disso, muitos nativos já sabiam da existência dessa cidade e foram esses nativos que ajudaram Hiram Birgham a encontrá-la porque estava coberta pela vegetação. São mais de 200 sítios arqueológicos, mas apenas cerca de 30% da cidade é de construção original. Há muitas versões sobre a cidade: teria sido um local construído com o objetivo de supervisionar a economia das regiões, refugio do Imperador Inca, reduto das Virgens do sol, escola de sábios, centro astronômico e enérgico do planeta, enfim...Machu Picchu era para aprender, se conectar aos deuses, repensar e retornar, já prescreviam os Incas. 
O caminho por Machu Picchu é exaustivo e exuberante. Há que subir muito e com guia a caminhada vem completa de história: áreas agrícolas com grandes terraços e locais de armazenamento, área urbana com seus templos sagrados, praças e mausoléus reais. Toda a organização e estrutura da cidade faz com que haja a passagem do deus sol.
Para os Incas, existiam 3 níveis espirituais: o mundo de cima (representado pelo Condor e considerado um animal sagrado e guardião do mundo de cima), tinha a missão de carregar os mortos para o mundo de cima ou dos espíritos. Havia o mundo do meio ou dos homens (representado pelo puma) e o mundo de baixo ou dos mortos (representado pela serpente). A serpente representa o cérebro responsável pelos instintos e sobrevivência, o puma é responsável pelas emoções e sociabilidade e o condor a capacidade de voar, o que transcende. Diferente do mundo ocidental os incas buscavam uma visão integrada da realidade, dentro de um contexto indígena (xamanismo), segundo o qual o universo é uma grande teia de aranha que um leve toque altera tudo em sua rede. Visão holística do universo. 

 Segundo a tradição andina, o equilíbrio energético se dava pelo estimulo ao prazer e plena satisfação humana em todas as áreas, inclusive no trabalho; Aceitação das carências afetivas para abertura ao amor: aprender a amar incondicionalmente e para os problemas da mente, simplicidade: nas pequenas coisas e a compreensão do todo. Ou seja, tudo o que falamos e buscamos no séc. XXI era uma prática para a filosofia inca: Transformação pessoal, pois a chave está dentro de nós. Estamos redescobrindo essa filosofia atualmente né?
Quantas portas e passagens, quantas subidas e degraus fotografei. A recomendação de todos os guias era “não carregue peso”. Com licença aos poetas e intelectuais, essas portas e passagens levavam a uma imensidão e essas subidas e degraus exaustivos levavam a contemplação de cima, do topo, de tudo. Excelente chance para reflexão sobre o tempo que temos de vida: seria tão mais leve de se viver entrando pelas portas e passagens e seguir subindo cada degrau para a contemplação do todo, com o mínimo de peso das costas, afinal, não se leva nada dessa vida: essa não é a máxima de envelhecer com sabedoria? Temos muito que aprender com essa ancestralidade. Voltei do Peru assim: com uma vontade de envelhecer com sabedoria, e ainda tanto que aprender.

Obs. 1: aprendi muito da história com os guias que me acompanharam, mas o livro “a ciência sagrada dos incas – KAW.RIBAS, gentilmente emprestado pelo amigo Frank vilela, foi fundamental para compor esse texto.
Obs. 2: viajantes são vizinhos. Eis que tive a grata alegria de encontrar uma amiga que conheci em outra viagem. Obrigado Maiara Jacobucci pelas risadas e Piscos. Conheci a Suzana Val de São Paulo que, assim como eu, viajava sozinha e me encantou sua juventude e deslumbramento. Suzana me renovou.
Obs. 3 : A Dayse da New Age sabe muito de personalizar viagens!


2 comentários:

  1. Leveza é tudo!!! Lindo texto amiga! Bj Ana Medeiros

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  2. Texto muito bem escrito, viajei nas suas palavras!
    Gratidão. <3

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Agradeço seu comentário. Andrea Pires

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Andrea Pires

Com Salto&Asas é um lugar de verdade, onde compartilho as memórias das viagens que mudaram minha vida e que me transformam diariamente. Sonhar, Planejar e Realizar, o melhor caminho para ter o Mundo nas Mãos! comsaltoeasas@gmail.com

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