quinta-feira, 25 de outubro de 2012

CHILE – Lagos Andinos e Santiago

Essa viagem foi um grande achado! Eu estava sem muitos recursos financeiros e me deparei com esse roteiro muito "em conta": BRASIL/BUENOS AIRES/BARILOCHE/LAGOS ANDINOS/SANTIAGO. Um roteiro pouco comercial, em que fui surpreendida durante 15 dias. Nunca imaginei encontrar tanta aventura, beleza e história aqui pertinho. Fui em pacote para os Lagos Andinos porque estava sozinha e fiz por conta própria a parte de Santiago. Mas tudo programado e reservado daqui do Brasil.
E como é diferente viajar sozinha pela Europa e pela América Latina! Na Europa é comum pessoas sozinhas em qualquer ambiente e em qualquer idade. Aqui tive algumas “olhadas questionadoras” das pessoas por onde ia (restaurante, vinícolas, etc), bem como no próprio grupo de latinos e brasileiros que conheci no pacote dos Lagos Andinos. Certamente que fiz boas e inesquecíveis amizades, mas eu era o único “ser” fazendo esse roteiro sozinho. E sempre tinha que responder a mesma pergunta: “Porque você está viajando sozinha?”. Isso não comprometeu em nada a viagem, pois além de desfrutar de um cenário encantador, que deve ser feito em qualquer situação (sozinho, casal, amigos, família), é uma escolha única para quem está de bem com a vida. E lá fui eu....
A chegada é por Buenos Aires para um curto espaço de tempo (se preferir pode esticar os dias em Buenos Aires). Para quem vai pela 1ª. vez, sugiro um city tour básico para conhecer a Casa Rosada, Catedral, Plaza de Mayo, Obelisco, Avenida Corrientes e 9 de Julho, bairros da Recoleta, La Boca e Caminito. Um pequeno espaço de tempo para a Rua Florida e as Galerias Pacífico. Um belo jantar com noite de tango e um maravilhoso café da tarde, no Café Tortoni (claro!). Injustiça resumir Buenos Aires assim, mas dedicarei outro post à altura da cidade. Prometo!!! 
Nem tudo é perfeito né? Pois então, ao chegar em Bariloche, descobri que o local era para casais em lua de mel e família em férias escolares (imaginem a minha situação!!!). O que me salvou mesmo foi saber que esse era o ponto de partida para os Lagos Andinos e aproveitar a neve pela 1ª. vez . Convenci-me que estava tudo normal, com ares de “Diva”. Aproveitei para comer de tudo e caminhar na cidade...afinal era a 1ª. vez que eu via neve! A sensação em conhecer a neve foi incendiária...à primeira vista senti o branco e o frio me queimando as vistas e o corpo. Aquela visão de que parece fofinho como algodão???? M-E-N-T-I-R-A . Totalmente branca e dura. Confortável de ver e desconfortável de sentir. Mas, na emoção, chorei, pois nunca pensei na vida em ver neve (clichê né?).
 
LAGOS ANDINOS....onde a viagem começou de verdade!
Então seguimos para os Lagos Andinos...cujo ponto de embarque era Bariloche, em Catamarã, pelo Lago Nahuel Huapi. Destino: Peulla, cruzando a Cordilheira dos Andes. A visão muda já na fronteira Argentina e Chile. Na Zona sul da Cordilheira do Andes conheci o “El Tronador”, um vulcão ainda ativo, que teve a ultima erupção há mais de 10.000 anos. Dizem que é baixíssima a probabilidade de entrar em atividade. 



A visão é assustadora e belíssima. Um misto de medo e prazer. Seguindo o percurso de Catamarã, vi uma natureza muito diferente e forte. Senti nos olhos o verde esmeralda das águas, o branco da neve e o azul quase celeste do céu, mistura exuberante de cores e sentimentos nunca dantes presenciados, mas de uma harmonia impressionante. Paramos em Peulla para um pernoite no Hotel Peulla, com estilo “ecoturismo”, e estrutura e serviços “impecáveis”. No dia seguinte, seguimos a rota cuja vedete desse trecho é Vulcão Osorno, considerado ativo e muito conhecido pela semelhança ao Monte Fuji (Japão). A cada instante, mais e mais impressionada com a rusticidade de Deus e a perfeição de sua obra. O Osorno tem uma neve constante em seu topo e a qualquer momento pode entrar em erupção, sendo a ultima registrada em 1869. Chegamos a Puerto Varas, uma cidade charmosa com arquitetura alemã, bastante turística e com restaurantes maravilhosos que “encerraram” maravilhosamente essa parte exótica e inusitada.






E fiquei pensando como traduzir e materializar essa beleza...tão sofisticada e simples de ser vista e difícil de ser sentida .... o verde esmeralda na água corrente reflete com uma intensidade que os olhos não acompanham. Não dá para sentir quente ou frio...é indefinido...o azul celeste do céu, bem poderia ser o azul do mar...no horizonte..quase impossível diferenciar....e o branco da neve, parece um abraço de Deus em tudo isso, um verdadeiro paraíso. Ah! Claro... El Tronador e Osorno...protegem e mantém o equilíbrio porque muitos acreditam que é onde o demônio descansa....deixo-os assim..por mais 10.000 anos...intocáveis....

O Chile e sua diversidade étnica...
Não sabia absolutamente nada do Chile, exceto sobra a fama dos vinhos. Quando cheguei à Santiago observei um povo “misturado”, com predominância do tipo “indígena”. Vi uma educação fantástica nas pessoas. Conheci um pouco de suas dores quando falam sobre o Golpe. Enfim... comecei a entender o Chile e sua história...forte e sangrenta....linda e cheia de riquezas....
Quando os espanhóis chegaram (sec. XV), encontraram um local povoado pelos Incas e Mapuches. Mesmo confrontados pela maioria indígena, os espanhóis tiveram apoio de algumas facções das tribos, o que levou à Conquista Espanhola e escravização indígena para o trabalho de exploração de ouro e serviços domésticos. O ouro era o motivo maior de exploração do local, até se esgotar, quando então a economia ficou concentrada na mão de obra doméstica dos índios. Foi um processo natural o surgimento de uma camada mestiça que ascendeu às classes dominantes, formadas por filhos de homens espanhóis com mulheres indígenas. Com o tempo, esses mestiços queriam “branquizar” essas classes dominantes (que eles agora pertenciam) e no século XIX, o Chile passou a incentivar a vinda de imigrantes europeus com o objetivo de mesclar a população mais rica e branquizá-la. Então, formou-se uma elite “branca” de imigrantes, não necessariamente espanhola. E o povo com predominância indígena.
Em 1818 o Chile alcançou a independência. O que mais me marcou foi ver nas pessoas a memória dos 17 anos de ditadura militar (1973-1990), considerada uma das mais sangrentas do século XX na América Latina (o presidente eleito em 1970, Allende sofreu um golpe de estado pelo general Augusto Pinochet ). A história está impregnada nesse povo e a memória está viva. E aqui faço uma referência especial ao povo que vi no Chile : do motorista de taxi ao garçom do restaurante, todos sabiam falar sobre economia, política e história com uma coerência e patriotismo impressionantes. Povo culto, inteligente e sofrido que me ensinou como recomeçar e reconstruir, sem esquecer de seu passado. E estou falando de pessoas jovens! Estou me referindo à composição étnica da base da pirâmide, formada de índios. Quero afirmar que a educação no Chile fez e faz a diferença.
Alguns dias em Santiago.... 
Estive por conta própria, fazendo minha programação. Observei que os principais pontos turísticos estão bem próximos do Centro. Por isso fiquei hospedada no centro, no Hotel Majestic, porque assim eu poderia me locomover com mais facilidade (estando sozinha). Esse hotel é muito especial, pois, dentro dele tem um excelente restaurante de cozinha indiana. Fiquei cliente...jantei umas 3 noites lá.
Facilmente chega-se ao Palácio de La Moneda (sede do governo do Chile e do poder executivo) e pude ver o pátio. Bem perto dali fica a Plaza de Armas e tive a sorte de ver troca da Guarda. Caminhando encontrei o Mercado Central e fiquei cliente (fui almoçar lá uns 3 dias da estadia em Santiago). Uma infinidade de restaurantes com comida típica e muitos pescados. Aproveitei um dia bem “largo” para visitar calmamente o Museu Chileno de Arte Pré-Colombiana, que me pareceu ser bem completo sobre a cultura pré-colombiana. Tenho fascinação por essa cultura. Tirei um dia para visitar a vinícola Concha y Toro, muito conhecida no Brasil. Fundada em 1883, que eu além de vinhos extremamente sofisticados, tem um dos vinhos mais conhecidos aqui no Brasil, que é o Casillero del Diablo. Reservei outro dia para a vinícola Cousino Macul, que ainda hoje é administrada pela família fundadora (desde 1856). Por estar bem próxima da cidade, corre o risco de ser descontinuada por causa da poluição da cidade.
Subi o Cerro San Cristobal, um parque urbano de onde se tem a vista completa e cinzenta de Santiago. As compras de “regalos” foram um capítulo à parte. Em frente ao Cerro de Santa Lucía tem uma Feira de Artesanato maravilhosa e completa. Preços ótimos. O que mais se procura são os objetos e joias de lápis lázuli  (pedra azul encontrada no Chile e Afeganistão). Também visitei do Pueblito Los Dominicos que tem um artesanato bem variado e nesse local os artesãos se organizam como um ambiente de “povo do campo”, bem típico.
A antiga residência de Pablo Neruda, que hoje é um museu, fica em Isla Negra e é onde ele está enterrado. Conhecido e admirado mundialmente pelas obras, ainda tem sua memória muita viva nessa casa. Não sou uma conhecedora do poeta e escritor com a sensibilidade dos intelectuais, mas as horas que passei em sua casa, percebi que era um homem intenso, apaixonado, inconstante, incompreendido, insaciável, cheio de vida e de uma tristeza profunda (tudo ao mesmo tempo). Fui pesquisar mais sobre ele e li que Isabel Allende, em seu livro Paula, fala que Neruda teria morrido de "tristeza" ao ver dissolvido o governo de Allende. Já a versão do ditador Pinochet é a de que ele teria morrido devido a um câncer de próstata. Bom....isso não faz mais diferença...nem Neruda e nem Pinochet vivem....ambos passaram e suas histórias ficaram. Então....além de toda essa história belíssima, fui seduzida pelas livrarias de Santiago. Foram as melhores compras que fiz. Apesar do peso na mala, pude ter acesso a títulos em espanhol, mais que especiais, como por exemplo, o livro de Gabriel Garcia Marquez   Memóriasde Mis Putas Tristes. Além disso, tem (a polêmica) Isabel Allende que me encanta profundamente e com ela aprendi a ler muito bem em espanhol. De uma sensibilidade e simplicidade. Uma novelista de primeira. Assim fiz esse tour...umas das muitas viagens que fiz sozinha. Descobri um inverno rigoroso, vi a neve pela 1ª. vez, vulcões adormecidos e águas de cor esmeralda. Apreciei vinhos e gastronomia. Perdi-me em Santiago e me encontrei nas grandes livrarias. Tive muitos dias que fiquei sozinha,  mas nenhum dia de solidão... Encantei-me com a história e a garra desse povo....voltei transbordando de vontade de explorar “outros mundos”....esse roteiro me trouxe coragem e me deu poesia para todos os outros dias do resto de minha vida.

5 comentários:

  1. Delícia de viagem! Do chile eu conheci o Atacama, que tam,bém é um ugar incrível!

    Ah !Espero que vc esteja assim disciplinada para sua apresentação de dança também!!! Bjão

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  2. Voltando a ler, com calma, seus posts. Suavizando meus sentimentos, com suas palavras diria... "espelhadas". É como se estivesse ouvindo de você e imaginando a paisagem e sentindo, até mesmo, os cheiros...

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  3. Andrea,
    Por onde vc adquiriu o pacote? Recomenda a CVC? Eu queria fazer somente Lagos Andinos e talvez Santiago (sozinha também!)...
    Obrigada!

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  4. Oi Natália,
    Eu acho que viagens em pacotes ficam mais agradáveis em grupos menores. Não conheço o serviço da CVC, mas me parece que são grupos grandes. Eu uso o serviço da NEW AGE e tenho uma agente de viagens em Brasilia. Se você vai sozinha e quer ir em grupo, recomendo que faça isso com grupos pequenos. bjs
    Andréa

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Agradeço seu comentário. Andrea Pires

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Andrea Pires

Com Salto&Asas é um lugar de verdade, onde compartilho as memórias das viagens que mudaram minha vida e que me transformam diariamente. Sonhar, Planejar e Realizar, o melhor caminho para ter o Mundo nas Mãos! comsaltoeasas@gmail.com

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